Parte 2 da entrevista da profissional certificada pela Federação Internacional de Coach Fátima Abate explica um pouco mais sobre essa nova terapia que pode ajudar a organizar sua vida e alcançar seus objetivos, para a Revista Prana Yoga de Maio de 2008, pgs 49, 50 e 51.
[ESTABELEÇA UMA INTENÇÃO]
Organização integral exige muito trabalho. Requer mudanças fundamentais na forma como você faz as coisas. O primeiro passo é examinar o motivo pelo qual você está entrando nesse desafio. No sistema de oito membros conhecido como Ashtanga Yoga, o sábio Patañjali lista os yumas (controle) e niyamas (observâncias) como princípios a serem cultivados pelos yogis no caminho em direção ao não sofrimento. Pedro Kupfer explica que “o objetivo primordial dos yumas e niyamas, que configuram o código de conduta dos yogis, é justamente dar uma estrutura ao cotidiano do praticante, para que ele possa ter uma vida mais tranqüila, na qual as distrações, a ansiedade e a desorganização possam ser postas de lado”.
O primeiro niyama é saucha (purificação). Isso inclui limpeza do corpo e de casa, mas o princípio pode também ajudar a colocar a vida em ordem dando um passo para trás para descobrir porque você quer construir novos hábitos.
Esse é um passo importante antes de começar o trabalho físico de organização, porque somente intenções fortes e significativas podem abastecer verdadeiras mudanças durante esse processo.
Uma vez definida a intenção, você pode focar em uma única área em que queira mais paz e controle. Quer seu objetivo principal seja uma casa tranqüila ou paz mental, sua visão e propósito para se organizar devem ser fortes o suficiente para sustentá-lo para as mudanças que virão. Lembre-se de que esse não é um ajuste rápido. Você provavelmente terá vontade, em algum momento, de desistir da idéia toda. Quando se sentir frustrado ou resistente, volte a essa visão para restabelecer sua intenção e trazer a consciência de volta ao processo de organização.
[VÁ A FUNDO]
Um vez estabelecida uma intenção que o inspire, examine seu comportamento por meio do segundo niyama, svadyaya (estudo de si mesmo). O que você faz que cria desordem? Por que você faz? Pelo estudo de seus movimentos e pensamentos no espaço que escolheu, você pode descobrir a verdadeira causa de sua bagunça. A partir disso estará pronto para começar o trabalho físico de organização e a desenvolver hábitos novos e mais efetivos.
Enquanto estuda seus próprios comportamentos, perceba as muitas coisas que você faz automaticamente e sem consciência. Joga a chave do carro em qualquer lugar ou deixa uma pilha de props no meio da sala depois de praticar? Compromete-se a fazer mais coisas do que pode? Por que?
Esse última pergunta começa o trabalho profundo de mudança de hábitos consciente. Você tem medo de encarar seu armário ou sua agenda? Que outros sentimentos aparecem quando você olha para eles? É difícil decidir o que guardar e o que jogar fora porque você não sabe o que é realmente importante para você?
[TRABALHO EM EVOLUÇÃO]
É fácil sentir-se frustrado e ansioso quando se der conta de como você mesmo cria a bagunça. Se isso acontecer, retorne para sua intenção com uma atitude de observador compassivo. Você pode se considerar um bagunceiro ou preguiçoso. Mas esses rótulos podem impedi-lo de adotar estratégias para uma vida mais fácil. A professora de Yoga e life coach Lilly Hastings explica que “se uma pessoa descobre seus sonhos, seu propósito, mas não traça um plano de ação e principalmente, se não aprende a desenvolver as competências que ainda não tem e que são necessárias para realizar seu plano, não serve de nada ela ter claro seu sonho, pois nunca se realizará”.
Quando decidiu mudar seus hábitos, você pode até ter colocado “ser organizado” como objetivo. Mas não existe um destino final chamado “organizado”. Ser organizado é um processo de aprender a viver a vida de forma mais relaxada e com mais presença.
Com uma visão de onde quer chegar e a compreensão de como você se transformou no que é, é hora de por a mão na massa. Criar uma lista de tarefas, limpar um quarto e guardar coisas pode não ser divertido, mas não tem de ser chato. O crescimento espiritual vem quando você reconhece que mesmo a mais mundana das ações, como guardar os props depois da prática, é parte da atividade e vale a pena fazê-la com cuidado. No budismo zen, a organização e a limpeza do templo fazem parte da prática e são chamadas samu. A monja de budismo zen Waho, da comunidade zem budista Zem do Brsil, explica que “cuidamos para preservar aquilo com que compartilhamos a vida, ou seja, tudo à nossa volta. Fazemos samu para manter nossa vida em equilíbrio e harmonia”.
Na sua casa você pode considerar pedir a ajuda a um amigo ou começar com alguma organização simples – o que quer que funcione melhor para você. O mais importante é respirar para se manter presente na tarefa.
O pânico normalmente acompanha o começo de qualquer projeto, então come com uma única e simples tarefa que o leve em direção ao seu objetivo. Lembre-se, você não vai organizar sua casa inteira este fim de seman, mas poderia arrumar uma área e aprender a mantê-la organizada até estar pronto para a próxima.
Voltando aos ensinamentos do budismo zen, há a história de um estudante que pergunta ao seu mestre como ele também poderia alcançar a iluminação. O mestre responde: “Você comeu seu arroz?” “Sim”, responde o aluno. “Bem, então lave a sua tigela”, diz o mestre.
Realmente toda atividade, como praticar Yoga, aproveitar uma comida feita em casa, meditar e até mesmo pagar as contas, não está completa até você arrumar tudo depois – e nem chega a começar sem a organização prévia. Portanto, em vez de procurar uma satisfação na tarefa finalizada, trabalhe lentamente em direção a práticas de organização simples. A única coisa que terá de lembrar é de lavar sua tigela quando acabar e estará pronto para qualquer coisa que esteja por vir.