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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Gayatri Mantra

por Otávio Leal

Um dos mais poderosos mantram, detentor de grande respeito e considerado o mantra da iluminação, é o Gayatri, que pratico regularmente no yoga e no tantra.

Na Índia conta-se que um jovem meditador chamado Manu buscava a iluminação. Ele fazia todas as práticas de yoga, mas não tinha o menor interesse em ler ou estudar os livros sagrados. Era perito em exercícios respiratórios, posições físicas, meditação e concentração, mas não gostava de ler, o que incomodava seus gurus.

Um dia, numa prática meditativa, Manu foi visitado pela deusa Indra, que já há muito observava as práticas do jovem. Indra disse a Manu:

Suas práticas de yoga e sua busca pela iluminação me despertam a compaixão por ti e te ajudarei em tua busca. Pede-me o que desejares.

Manu, assombrado pela presença de Indra, fez-lhe uma reverência, inclinando-se, e disse:

Permite-me conhecer todos os mistérios dos textos sagrados sem que eu os leia ou estude, pois minha natureza é a de praticante, e não a das teorias contidas nos livros.

Indra, perplexa, riu diante do pedido e disse a Manu que seria impossível:

Manu, pede-me outro desejo, pois até hoje nenhum ser atingiu a iluminação sem antes estudar os textos sagrados. É como um homem que queira, jogando pedras sobre o mar, aterrá-lo. Isso é impossível como também é impossível conhecer os textos sem lê-los. Pede-me outra coisa, Manu.

Manu respondeu:

Se é assim, nada desejo, pois somente a iluminação é a minha meta. Não me interesso por nenhuma riqueza ou honra deste mundo.

Indra, feliz por reconhecer a humildade do jovem Manu, recuou em suas convicções e disse-lhe:

Manu, por tua pureza e busca sincera, dou-te um mantra que, praticado, permitirá que alcances a iluminação sem dominar os textos.

E Indra ensinou o Gayatri Mantra:

Om Bhúr Bhuva Swáhá
Tat Savitur Varenyam
Bhargo Devasya Dhimahi
Dhyo Yo Nah Prachodayat.


O Gayatri é, portanto, o Mantra da Iluminação, considerado por vários sábios o mais completo e poderoso que podemos praticar. Ele é total — atua desde os aspectos mais sutis do ser até a matéria.

Outro mito conta que numa reunião de vários sábios na Índia criou-se esse mantra, que é chamado de “Mãe dos Vedas”, pois ao praticá-lo adquire-se todo o conhecimento dos textos sagrados e se acumulam méritos — karma positivo. Em suas sílabas está contida toda a essência da mística e filosofia hindu, na qual destaco:

Jnaña Yoga – o conhecimento da sua eternidade e o abandono do impermanente;

Bhakti Yoga – devoção a todos os elementos da natureza, já que o Gayatri contém em suas sílabas elementos como fogo, ar, água, terra, homens, animais, sol, lua, estrelas etc;

Karma Yoga – que dá consciência de nossa interdependência com todos os seres vivos e nossa responsabilidade de deixarmos o planeta em paz.

Cada sílaba do Gayatri contém um significado místico:

Om – a mãe/o pai de toda a eternidade;
Bhúr – a mãe Terra, o planeta Terra, o plano físico;
Bhuva – o éter, a atmosfera, o plano astral;
Swáhá – o céu, os planos não-materiais celestes, conhecidos
como angélicos ou devas;
Tat – “aquele”, nossa alma, a transcendência do ilusório e do triunfo;
Savitur – o poder da luz, o abstrato, a vida presente em tudo, a nutrição;
Varenyam – adoração por tudo;
Bhargo – a irradiação da consciência da vida, a eliminação dos maus karmas e o acúmulo de méritos;
Devasya – todos os seres, a nossa iluminação e a aceitação do que se é;
Dhimahi – meditação, domínio;
Dhyo – corpo, austeridade;
Yo – alma, consciência;
Nah – totalidade, criação;
Prachodayat – iluminação e compaixão.


O iluminado Krishna diz no Bhagavad Gita:

Significado

Bhúr, bhuva e swáhá são os três planos da existência. Na teoria védica das equivalências (bandhu), essa divisão tripartida do universo tem muitos níveis de significados. Refere-se aos três mundos: o infinitamente grande, o humano e o infinitamente pequeno; aos três gunas, ou às três qualidades da natureza: inércia, ação e equilíbrio (tamas, rajas e sattwa); ou ainda ao paralelo que existe entre as estruturas da consciência e da natureza. Ou seja, assim como é em cima, é também embaixo, o macrocosmo reflete o microcosmo. Savitur, o Sol, é o símbolo da consciência e ao mesmo tempo da kundalini. Faz-se o Gayatri Mantra para celebrar a existência e harmonizar-nos com o poder de transformação presente na natureza. Este mantra é um convite à contemplação da força que move o macrocosmo, o microcosmo e o homem.

Em uma viagem de peregrinação à Índia, tive acesso a este quadro, que será utilíssimo aos já iniciados nos mistérios e nas práticas mântricas.

Mantra
(sílaba)

Cor
(das sílabas)

Shakti
(deusa do mantra)

Princípio cósmico
(micro/macrocosmo)

Tat

Amarelo

Prahlãdini

Terra

Sa

Rosa

Pradhã

Água

Vi

Vermelho

Nityã

Fogo

Tuh

Azul

Visvabhadra

Ar

Va

Transparente

Vilãsini

Éter

Re

Branco

Prabhãvati

Olfato

Ni

Branco

Jayã

Paladar

Yam

Branco

Sãntã

Visão

Bha

Preto

Kãntã

Toque

Rgo

Vermelho

Durgã

Som

De

Lótus-vermelho

Saraswati

Fala

Va

Branco

Visvamãyã

Mãos

Sya

Dourado/ amarelo

Visãlesa

Genitália

Dhi

Branco

Vyãpini

Ânus

Ma

Rosa

Vimalã

Pés

Hi

Concha branca

Tamopahãrini

Orelhas

Dhi

Creme

Suksma

Boca

Yo

Vermelho

Visvayoni

Olhos

Yo

Vermelho

Jayãvahã

Língua

Nah

Cor-de-
nascer-do-sol

Padmãlayã

Nariz

Pra

Lótus-azul

Parã

Mente

Cho

Amarelo

Sobhã

Ego/senso

Da

Branco

Bhadrarupã

Princípio criador

Yat

Branco, vermelho, preto

Trimurti

Três qualidades da natureza: Ação, inércia e equilíbrio


Uma prática adiantada de meditação é a união do mantra com o yantra do Gayatri.

Yantra é um símbolo ou mandala que representa algo, no caso, o Gayatri Yantra refere-se à iluminação.

Para praticar o Gayatri, sente-se com a coluna ereta e com o yantra colocado à altura de seu rosto, iluminado pela chama de uma vela. Visualize o centro do símbolo, evitando piscar enquanto mentaliza ou vocaliza esse mantra mantr.

Os efeitos dessa prática se fazem sentir principalmente à noite.

Kalu Rinpoche, em seu livro The Dharma, diz: “Recitamos e meditamos sobre o mantra, que é o som iluminado, a fala da divindade, a união do som com a vacuidade. (...)Ele não possui uma realidade intrínseca, é simplesmente a manifestação do som puro, experienciado simultaneamente com sua vacuidade. Através do mantra, não nos apegamos mais à realidade da fala e do som encontrados no cotidiano, mas os experienciamos como sendo vazios. Então, a confusão do aspecto da fala de nosso ser é transformada na consciência iluminada”.

Texto Koan para sua Reflexão:

“A iluminação é só um começo, um passo da jornada. Se você se agarrar a ela como se fosse uma nova identidade, terá dificuldades. Você precisa voltar à confusão da vida, se entregar a ela ainda por muitos anos. Só assim pode completar o que aprendeu. Só assim vai aprender a perfeita confiança.”

Rimpoche


Vi na Humauniversidade

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